quarta-feira, 13 de julho de 2011

Rua Augusta tenta recuperar glamour dos anos 60 e 70

Fonte: Jornal Valor Economico

Outrora degradado e decadente, o centro de São Paulo - especialmente a região conhecida como Baixo Augusta - ganhou uma nova aura. Virou um ponto de encontro de jovens descolados e antenados. Bares, casas noturnas e novas casas de show dividem espaço com tradicionais espaços culturais e gastronômicos. Combinação perfeita para a indústria imobiliária. As incorporadoras estão dispostas a transformar a região em mais do que um simples endereço da moda. Não medem esforços nem pesados investimentos para criar endereços de grife - lançam apartamentos compactos por preços de bairros nobres, de R$ 8 mil a R$ 9 mil o metro quadrado do residencial e acima de R$ 10 mil o comercial e flat decorado.
Iniciada pelos empresários da noite, a revitalização da região foi incorporada pela prefeitura e agora chega aos incorporadores. Levam novos conceitos de moradia, segurança, iluminação - e com o tempo - valorização para a região. As edificações revitalizam mais que o poder público, diz Marcos França, diretor comercial da Requadra, empresa que está no centro há 12 anos e tirou mais de 20 cortiços da rua Paim, perpendicular à Augusta e Frei Caneca.
Conhecida pela prostituição, que continua por lá, mas parece conviver cordialmente com os frequentadores, o baixo Augusta vai receber três luxuosos empreendimentos, que estão em fase de pré-lançamento (quando os compradores são apenas cadastrados e as empresas medem o aquecimento do mercado) e devem ser lançados oficialmente até agosto. Os edifícios incluem academia panorâmica, sky lounge (bar no último andar), enoteca, lavanderia, serviço de concierge e manobrista.
A revitalização da Praça Roosevelt, que está sendo feita pela prefeitura, afasta a delinquência da região
Com coeficiente de aproveitamento de seis vezes a área do terreno e sem o pagamento de outorga onerosa - esgotada em muitas outras regiões da cidade - a prefeitura estimulou as construtoras a redescobrirem a região. Nos últimos três anos, foram lançadas 2 mil unidades no Centro, segundo levantamento da Lopes, e há 4% de estoque. Outras 1,5 mil unidades serão lançadas na região - que vende as facilidades e a infraestrutura do Centro como opção às regiões mais distantes e igualmente caras. Os apartamentos no Centro valorizaram 38% em 2010, acima da média de 22% em São Paulo.
No último fim de semana, durante um dia, um burburinho tipicamente noturno tomou conta das esquinas da rua Augusta com Caio Prado. Corretores e possíveis compradores fizeram fila para conhecer o novo empreendimento da Brookfield, que está relançando o primeiro cinco estrelas da cidade, o CadOro. Houve 500 cadastros. A empresa comprou o direito de uso da marca da família Guzzoni e vai construir um empreendimento de uso misto - residencial, comercial e flat. O hotel que operou por seis décadas e recebeu visitantes ilustres como Nelson Mandela, Pablo Neruda e Luciano Pavarotti, já começou a ser demolido - paredes internas já estão destruídas e nos próximos oito meses deve vir totalmente abaixo. Será uma demolição rudimentar, sem implosão.
A Brookfield, que criou conceito parecido no Itaim, está investindo R$ 4 milhões apenas no estande, sem contar material publicitário. O antigo lobby do hotel e o restaurante, espaço de 900 m2, transformaram-se em estande, que inclui vídeo 3D sobre o Centro e apartamentos com decoração sofisticada - cada um com o respectivo proprietário, um corretor muito bem informado sobre a sua casa.
Sem modéstia, a Brookfield diz querer traçar um novo capítulo urbanístico da cidade. Muita gente quer morar onde tenha vida noturna, cultural e transporte, diz Ricardo Laham, diretor de incorporação. Na sua opinião, a revitalização da Praça Roosevelt, que está sendo feita pela prefeitura, afasta a delinquência da região.
A poucos quarteirões dali, a WZarzur - empresa que construiu vários empreendimentos no Centro nas décadas de 50 e 60 - vai fazer um residencial com projeto dos badalados designers Marcelo Rosenbaum e Guto Requena (fazem móveis e decoração de interiores). Batizado de Edifício Brasil, terá verde e azul na fachada e projeto luminotécnico do mesmo arquiteto que iluminou a Sala São Paulo e Mercado Municipal, além de restaurante e academia Runner.
O terreno pertence à família há anos, receberam várias propostas e, com o aquecimento do mercado, decidiram investir. Estamos cogitando entre R$ 9 mil e R$ 9,5 mil o metro quadrado e sentimos que o mercado vai absorver, diz Rogério Atala, gerente de engenharia e incorporação da WZarzur. É um público diferenciado que percebe valor na região.
Subindo a Augusta, a Esser está lançando outro edifício, cujo preço deve ficar entre R$ 8 mil e R$ 9 mil o metro quadrado, com spa na cobertura, home office no térreo e até pet place para animais de estimação. Também abriu para pré-lançamento no fim de semana, com direito à DJ e badalação.
Pesquisa da Lopes sobre o perfil do comprador da região mostra que 50,4% são solteiros, 49,8% com nível superior, 20,3% com 30 a 34 anos e 17,4% com 35 a 39 anos. Para Mirella Parpinelle, diretora de atendimento da Lopes, o público que ama o Centro - como ela define - está, sim, disposto a pagar esse preço para morar na região. Eles preferem ter um apartamento menor e aproveitar o entorno.
A Requadra Incorporadora foi pioneira na retomada de investimentos no Centro. Fez o primeiro empreendimento da rua Paim, que hoje conta com seis prédios. No fim de 2009, o preço era R$ 4,5 mil o metro quadrado. No segundo lançamento em dezembro de 2010, vendeu a R$ 7 mil o metro. A infraestrutura está ali, não faz mais sentido ir para a periferia, que também está cara, diz França. Agora, a empresa vai testar um produto com três dormitórios, que será lançado no início de 2012, para atrair famílias. (DD).